segunda-feira, 23 de março de 2009

Maria Aragão – 90 anos

por Reginaldo Telles em fevereiro de 2000

Maria Aragão é uma dessas pessoas que orgulham a espécie humana. Mas os seus inimigos nunca pensaram assim. E quem eram eles? Respondo: Os agentes do SNI, os mesmos agentes também dos grupos dominantes. Não era para menos, porque Maria Aragão, com suas idéias de mudanças – idéias revolucionárias – incomodava, porque ameaçava os interesses econômicos, os grupos com privilégios. Seria fácil compreender a razão porque Maria Aragão incomodava tanto.

Os jovens a admiravam, quase como um mito. O desprendimento com que se dedicava às suas tarefas comovia, sobretudo as pessoas mais simples, os trabalhadores, as mulheres do povo, carentes, necessitadas, excluídas, desesperançadas. Ninguém sabe se ela seria mais uma médica humanitária ou um instrumento político de um ideário utópico, mas não impossível de ser atingido. E, por isso, ela clamava pela organização das bases como condição necessária para que as forças populares pudessem ganhar o grande espaço que merecem na sociedade.

Uma pessoa de prestígio popular, amada pela grande maioria dos necessitados, que eram e ainda são tantos, tinha e tem de ser olhada como um agente perigoso. E, por isso, ela era seguida, acompanhada pelos olhos e atenção vigilantes dos homens do poder.

Quantas perseguições ela sofreu por isso! Quantas humilhações e torturas!

Quando Maria Aragão visitava um bairro para atender um cliente, um sem número de pessoas aproveitava a sua presença para auscultar muitas outras pessoas doentes, a que ela nunca se negava. Mesmo no dia do seu casamento, adiou por alguns minutos a solenidade para atender um chamado num dos bairros de São Luís.

O seu escritório político era também o consultório médico, humilde dependência, durante um bom período, localizado à rua da Palma, nº 14, ao lado do seu quarto de dormir, separado por um tabique.

Mas funcionava dia e noite como um instrumento do melhor serviço social.
Os seus inimigos acusavam-na com os piores epítetos, mas os pobres a amavam e exaltavam a sua generosidade.

Maria foi assim: uma grande figura, grande e belo exemplo para as novas gerações; uma mulher dedicada, autêntica, corajosa, coerente e determinada.
A praça que lhe dá o nome, aqui em São Luís, deveria ser, portanto, um grande espaço para conter um espírito tão grandioso.

Nunca posso me esquecer do dia em que Maria Aragão, Jackson Lago, Haroldo Sabóia, Aldionor Salgado, Luís Pedro e outras lideranças estiveram na minha casa para me convidar a assumir a presidência do Comitê Brasileiro pela Anistia. As palavras que ela disse, o carinho com que me falou e os argumentos que usou tinham de receber a minha resposta positiva.

Agora, no dia 10 de fevereiro, completaria 90 anos. Não diria se estivesse viva, porque pessoas assim, como Maria estarão sempre vivas, bem vivas na nossa memória.

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